Tutorial do esquecimento
Fez-se preciso, imperativo, trocar a marca do xampu, hidratante, creme dental, sabão em pó, para que nenhum aroma reconhecível sugerisse ao olfato desavisado a sua presença.
Durante todo um final de semana desenhei nova disposição para os móveis da casa, desmanchando com piaçava o aconchego tecido pelas aranhas, sacudindo dos lençóis as invisíveis células mortas que um dia haviam sido suas. Joguei fora todos os copos em cuja borda havia o perigo de persistir o seu gosto resistente ao sabão, resistente mesmo à posterior impressão de outros lábios sobre o rastro dos seus. Estava decidida a evitar a indigestão causada pelas lembranças requentadas.
Novas cortinas, nova fotografia no porta-retratos da escrivaninha, a familiaridade temporariamente banida até que o novo virasse hábito, até que parecesse estranho imaginar você nesta cadeira, um personagem descolado do cenário, um invasor.
E só às vezes, quando eu me distraio, é que me pego perguntando por que florescem estas rosas que nunca te viram.
Que lindo!
acasadevidro said this on 21/03/2010 às 10:47 |
“E só às vezes, quando eu me distraio, é que me pego perguntando por que florescem estas rosas que nunca te viram.”
Essa frase…cacete hein…
Rodrigo said this on 21/03/2010 às 15:45 |
uuuufff…..
Helô Cuente said this on 22/03/2010 às 21:49 |
Thais e sua habilidade com as palavras!
Kátia said this on 29/03/2010 às 18:32 |
Muito bonito…
romina said this on 09/05/2010 às 21:05 |